Apesar do cenário desafiador nas frentes inflacionária, externa e fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cumpriu o prometido e puxou o freio no ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros). A taxa subiu 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 13,25% ao ano, em decisão unânime.
Com a elevação a 13,25%, a Selic alcançou o maior patamar em cinco anos e meio, desde janeiro de 2017 (13,75%). Foi a 11ª primeira alta consecutiva neste ciclo de aperto monetário, que já é o mais longo da história do Copom. Desde o primeiro aumento, em março de 2021, quando a Selic estava na mínima de 2%, a taxa já subiu 11,25 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999.
Em sua 247ª reunião, o Copom previu que um novo ajuste da taxa básica de juros, Selic, deva ser feito na próxima reunião, em agosto. A sinalização consta do comunicado divulgado, após a decisão de elevar a Selic. De acordo com a cúpula da instituição, a elevação deverá ser “de igual ou menor magnitude” que a promovida nesta quarta-feira.
Para o Copom, a medida deve ser apropriada para que o ciclo de aperto monetário continue avançando “significativamente em território ainda mais contracionista”, levando em conta suas projeções e o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos. “O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, escreveu a cúpula da instituição na nota.
O Comitê também observou que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação. Como de praxe, o Copom enfatizou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
A decisão desta quarta-feira (15) era plenamente esperada pelo mercado financeiro, já que o BC sinalizou, após subir a Selic em 1pp no Copom de maio, que avaliava “como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude” para a reunião deste mês.
De 50 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, 46 esperavam alta de 0,50pp dos juros básicos, para 13,25%. Três casas estimavam aumento de 0,75pp, a 13,50%, enquanto uma projetava a manutenção do ritmo de aperto monetário de maio, de 1,00 pp, para 13,75%.
Nas últimas semanas, a maioria das notícias não foi boa para a missão do BC de colocar a inflação na meta. As investidas do governo para baixar os preços de combustíveis via redução de impostos aumentam o risco fiscal e podem ter efeito “rebote” no ano que vem, que é o foco da política monetária atualmente. A inflação no mundo voltou a assustar e o petróleo continuou a subir. Por outro lado, o IPCA de maio ficou abaixo do esperado, mas as expectativas para os próximos anos seguem avançando.
Ao justificar a decisão desta quarta-feira (15), o BC avaliou que “reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva”. Além disso, considerou que a decisão “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023.”
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, repetiu o comitê.