O consumo residencial de Gás Liquefeto de Petróleo (GLP) no Rio Grande do Norte, o botijão de gás, apresentou o menor consumo num intervalo de nove anos, segundo dados de um estudo feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Em 2020, o consumo foi de 176 mil m³ do gás, queda de 9% em relação a 2019, quando o consumo foi de 194 mil m³. Os constantes aumentos no preço podem ser um fator para a redução nesse consumo, registrado em 20 dos 27 estados do país em 2020.
Aliado a isso, cada vez mais é possível observar famílias usando lenha para cozinhar. Em 2020, segundo dados do mesmo estudo, o consumo de restos de madeira em residências aumentou 1,8% frente a 2019, em todo o País. Em Natal, por exemplo, o botijão de gás está com o maior preço médio do Nordeste na última semana, R$ 104,99, segundo último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Essa realidade acaba se concentrando nas camadas mais pobres da sociedade.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo do RN (Sindigás/RN), Francisco Corrêa, explica que o preço do gás e mudanças na importação do produto no RN podem ser fatores que fizeram o consumo no RN ser o menor desde 2011. Há 10 anos, segundo ele, o GLP consumido no RN era 100% produzido no Estado. Atualmente, o índice é de 35%, sendo o restante do gás importado do Ceará e Pernambuco.
“Um dos maiores fatores do gás do RN ser um dos mais caros do Nordeste é que não temos mais produção. O frete encarece demais. Não temos um porto”, comenta. Ele explica que a redução no consumo de 2021 em relação a 2020 esperada pelo Sindigás é de 12% a 15%.
O presidente do Sindigás aponta ainda que a redução no uso do GLP pode estar atrelada a uma mudança em parte dos consumidores, que hoje estariam usando outros aparelhos, como micro-ondas e racionando o uso do gás. “É difícil fazer promoção no nosso segmento, mas estimulamos algumas, como cartão de fidelidade”, cita.
A coordenadora da ocupação Valdete Guerra, Sabrina dos Santos 31 anos, explica que para comprar seu botijão, precisou cortar vários gastos. “Deixei de pagar o curso de digitação da minha filha, de comprar os livros dela, nem material escolar. Tive que tirar para comprar o gás”, explica.
Uso do gás natural canalizado cresce no RN
Ao passo em que cai o uso residencial do GLP no Rio Grande do Norte, o uso de gás natural canalizado está apresentando crescimento no Estado. Segundo dados da Potigás, em 2011 eram 3.123 clientes residenciais. O número em 2021, até setembro, é de 32.335. Ao todo, a carteira da Companhia Potiguar de Gás (Potigás) possui 33.137 clientes, incluindo indústrias, comércios, postos de combustíveis, entre outros. Com uma rede de mais de 470 mil metros, a Potigás distribui o gás natural canalizado em Natal, Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Goianinha.
“Se observa no mundo inteiro uma tendencia para uso de combustíveis menos poluentes. Apesar do GNV ser fóssil, ele emite menos gás carbônico. O GNV comparado com o GLP é bem mais barato. Os prédios residenciais estão optando por questão de economia mesmo”, explica a diretora presidente da companhia, Larissa Dantas, acrescentando que 97% dos clientes da Potigás são de prédios residenciais.
Além do preço, o Gás Natural Canalizado tem sido utilizado cada vez pela fácil manutenção e o fato de que esse tipo de gás se dissipa rapidamente em caso de vazamentos.
Recentemente, segundo a diretora presidente, a Potigás assinou um contrato com a empresa Potiguar E&P, após chamada pública, para aquisição de gás natural. A partir de 1º de janeiro de 2022, quando se encerrará o contrato com a Petrobras, a Potigás vai adquirir o gás natural canalizado com redução de 35% no valor da molécula. Segundo a companhia, toda a economia gerada pela nova contratação será integralmente repassada para o consumidor final.
“O preço do gás natural e outros combustíveis está aumentando e a Petrobras fornece pra gente até o fim do ano, essa diferença pode ser ainda mais significativa. Podemos ter uma redução de até 40% no valor”, explica.
Uso do gás
Série histórica consumo Residencial de Gás Liquefeito de Petróleo no RN
2011: RN: 178*NE: 2.657 BRASIL: 10.416
2012: 180NE: 2.679 BRASIL: 10.464
2013: 178NE: 2.745 BRASIL: 10.673
2014: 191NE: 2.921 BRASIL: 10.696
2015: 190NE: 2.916 BRASIL: 10.706
2016: 188NE: 2.905 BRASIL: 10.758
2017: 192NE: 2.970 BRASIL: 10.812
2018: 194NE: 2.944 BRASIL: 10.689
2019: 194NE: 2.979 BRASIL: 10.636
2020: 176NE: 2.715 BRASIL: 11.031
Fonte: EPE
Valores em mil m³
Prédios residenciais com GNC
2011: 3.123 2012: 5.462 2013: 10.232 2014: 12.858 2015: 15.498 2016: 17.949 2017: 20.517 2018: 22.277 2019: 25.011 2020: 28.438 2021: 32.335
Fonte: Potigás