O Conselho de Ética da Câmara abriu, nesta quarta-feira, um processo disciplinar contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente da República, por uma publicação feita no mês passado no qual ele debochou da tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão, colunista do GLOBO, durante a ditadura militar. Na época, o filho do presidente escreveu: “Ainda com pena da cobra”, numa referência a um dos métodos empregados pelos torturadores da jornalista.
As representações contra Eduardo foram apresentadas pelos partidos PCdoB, Rede, PSOL e PT. As siglas pedem a cassação do mandato de Eduardo. Durante a sessão do Conselho desta quarta, o parlamentar não compareceu. Ainda não foi escolhido o relator do caso.
No documento elaborado pelo PCdoB, a sigla diz que as manifestações dos parlamentares “não podem violar os princípios da razoabilidade”.
“Resta cabalmente comprovado que o deputado Eduardo Nantes Bolsonaro, ora Representado, quebrou o decoro parlamentar, ao fazer apologia a ato criminoso, como a tortura, ofendendo o Estado Democrático de Direito, demonstrando inacreditável e inaceitável insensibilidade com a dor e o horror de uma compatriota terrível e covardemente seviciada enquanto estava grávida ao tempo da ditadura, fatos absolutamente incompatíveis com o decoro parlamentar”, diz trecho da peça.
A jornalista Míriam Leitão relatou que, dois dias depois de ter sido presa no quartel do Exército em Vila Velha, no Espírito Santo, em dezembro de 1972, ela foi retirada de sua cela e levada para o pátio. Depois de levar chutes e tapas, teve que ficar nua na frente de dez soldados. Também foi trancada numa sala escura com uma jiboia. Míriam era militante do PCdoB. — Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver” — contou Míriam Leitão em depoimento ao GLOBO.
Na mesma sessão, o Conselho de Ética também instaurou outro procedimento contra o deputado Kim Kataguiri (União-SP) por ter dito que a Alemanha errou ao criminalizar a o nazismo.Também foi aberto processo contra o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), alvo de investigações da Polícia Federal. Conforme mostrou o GLOBO, o parlamentar pediu licença do exercício do cargo na semana passada com o objetivo de sair dos holofotes e ‘submergir’, de acordo com aliados.
Além deles, foram alvos de processos Carlos Jordy (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP), separadamente, mas ambos por ofensas ao senador Humberto Costa (PT-PE); Jandira Feghali (PCdoB-RJ), por postagem a favor de Josef Stalin; Talíria Petrone (PSOL-RJ), por defender atos que incendiaram estátua de colonizadores; Heitor Freire (União-CE), por ter invadido uma escola; e Bia Kicis (PL-DF), por divulgar dados pessoais de médicos favoráveis à vacinação infantil.